sexta-feira, 27 de maio de 2011

Uma pequena contribuição de “Sustentabilidade”


Após a palestra sobre o tema da Sustentabilidade (quarta 25/Mai), refletimos os impactos que o martírio (ocorrido na véspera desta palestra) do casal agroextrativista José Claudio e Maria do Espírito Santo, em Marabá (PA). A defesa da área de 22 mil hectares de floresta na cidade de Nova Ipixuna e das 500 famílias vivem da coleta de castanhas e andiroba das árvores para produção de óleos e outros produtos, custou-lhes a vida, diante da exploração ilegal de interesses de madeireiros e carvoeiros.

Numa visão teológica “sustentável”, podemos caracterizar que este casal é um exemplo de “Cristãos Anônimos” que a constituição Lumen Gentium declara, santos que estão inscritos no coração de Deus por terem entregue suas vidas na luta pela manutenção da Vida e da Criação divina. Este casal se equipara aos que, sem conhecer a doutrina e a comunidade cristã, se assemelha aos santos de Deus por seguirem, coerentemente, o impulso que Deus colocou em seus corações, ao defender a Vida e toda a Obra da Criação do Senhor.

Na história, observamos movimentos pendulares, entre opressão e ditaduras centralizadoras constrastando com movimentos de maior liberdade e democracia. A sociedade, de um modo geral, parece estar voltando sua atenção aos valores fundamentais perdidos nos tempos do neoliberalismo:

a ética nos mais diversos aspectos da vida profissional, social e política; o valor do matrimônio e da família estruturadamente estável; o resgate de ações ascéticas e de condutas de castidade tradicional nas questões da sexualidade e afetividade; enfim, parece que muitos se cansaram de viverem sem um “sentido verdadeiro”, frustrados com a busca desenfreada por riqueza e poder, conforto e prazer. Parece que as pessoas estão se voltando ao lado mais espiritualizado de sua existência, muitos, a seu próprio modo; outros, regressando à Instituição religiosa em que foi iniciado, ou que melhor lhe influenciou.

Quando refletimos que “Deus perdoa, sempre; o Homem perdoa, em condições; mas a Natureza, não perdoa nunca!”, percebemos esta enorme responsabilidade que todos nós temos em relação à Obra da Criação de Deus. Somos parte dela, formamos um ciclo simbiótico fundamental, sem lhe ser inferiores ou superiores: dependemos mutuamente de equilíbrio para nos sustentar!

Nesta questão sustentável, cada dia mais, não podemos nos calar diante de uma pessoa que lava a calçada com mangueira, de lixo que são jogados sem separação, tanto quanto uma pessoa que é injustiçada ou que tem seus direitos defraudados por poderosos e opressores!

Que o Espírito Santo de Deus nos capacite no dom da sabedoria e da fortaleza para enfrentar estes (e tantos outros) desafios teológicos que a atualidade nos propõe!

Um abraço a todos!

Por Marcos Akira Saito (4º ano de Teologia)

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Semana Teológica: Desafios Contemporâneos à Teologia

Semana Teológica: Desafios Contemporâneos à Teologia
Inscrição online:
http://www.pucsp.br/semanateologica/inscricoes_online.html

P.s:
As fotos da Jornada Teológica estão sendo postadas no nosso album. Veja na seção Album ou Links.

domingo, 1 de maio de 2011

Não se pode falar de Deus sem um prévio silêncio interior:

Ícones do mistério:

A experiência de Deus.

Façamos o homem (“varão e mulher os fez...”) segundo (nossa) imagem [..] e semelhança[...] Gn 1,26

Se analisarmos mais profundamente essa frase podemos concluir que o caminho a conhecer Deus não se não o caminho de conhecermo-nos a nós mesmos. Pois Deus nós faz a sua imagem e semelhança, mas também Deus é a imagem e semelhança dos seres humanos.

Isso podemos deduzir a partir do reconhecimento que inúmeras religiões tem desse processo de auto-conhecimento, para assim conseguir realizar uma experiência verdadeiramente mística, o deixar-se inundar na alma de Deus e com ela formar-se apenas uma. Não confundimos aqui essa experiência (mística) como um querer racional de encontrar a Deus, pois essa forma racional de encontrar Deus está fadada ao fracasso como nós mesmo já sabemos e o próprio texto nos remete “queres vós ser como Deuses”?(Gn 3,5) eis que o próprio orgulho do ser humano em “ser com deus” faz com que ele seja expulso do paraíso.

Pg. 12

Para saber algo de Deus é preciso conhecer o ser humano, assim como para crer em Deus é preciso crer em nós mesmos. “quem se conhece a si mesmo conhece a Deus”, diz Clemente de Alexandria.

Quem conhece Deus conhece todas as coisas, pois em Deus “vivemos. Nos movemos e somos” (At 17, 28).

Pg. 14

De Deus só se pode falar propriamente em vocativo, na invocação desde o fundo da alma, onde o mistério habita como hóspede discreto e invisível no escondido. Tudo o mais é idolatria (Mt 6, 6-7).

A trindade nos diga que Deus é relação (se fosse “substancia” seria triteísmo), e que nessa relação entramos também nós e o cosmo.

Pg. 15

Não só a criação é novidade constante, mas também o “Deus vivo” (expressão recorrente na escritura cristã) é sempre novo para nós, que somos (ainda) temporais.

O ícone não é subjetivo, pois não é uma fantasia individual. Nem exclusivamente objetivo, pois requer que o vejamos como tal símbolo.

Pg. 16

Resumindo, o ícone é uma epifania do invisível, porém para que se veja o invisível é preciso ter aberto o olho da fé, que nos permite a todos ver se o mantemos puro. A fé, á diferença da crença, é uma invariável humana.

Pg. 17

O último véu não se pode des-velar, porque, ao mesmo tempo que se revela, também vela, posto que a Deus ninguém viu (Jo 1,18). Tal é o mistério divino (Mt 11,25; Lc 10, 21). O autentico ícone é transparente, invisível, mas bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus (Mt 5,8) = a guardem silêncio.

Pg. 20

Não há experiência possível de Deus, pelo menos no sentido monoteísta da palavra. Muitas vezes se aprisionou a Deus pretendeu-se apreendê-lo, seria a expressão acadêmica em nossa contingencia a criaturabilidade.

Tampouco há experiência de Deus para si (genitivo subjetivo). Em Deus não cabe o genitivo, posto que não adiantaria nada o que á é. Este mesmo verbo --- ser----- é inapropriado.

Pg. 29

A experiência da humanidade, através da oralidade e da escrita nomeia e entende Deus como símbolo, como nome, não como conceito. A origem sânscrita da palavra “Deus”, dyau (dia), sugere o brilhante, a luz, a divindade (como no grego Theos). A luz permite ver e dar vida. Não sem motivo o sol é aceito universalmente também no catolicismo, como um dos símbolos divinos.

Pg. 31

Não se pode falar de Deus sem um prévio silêncio interior:

Pg. 33

O discurso sobre Deu é radicalmente distinto de qualquer outro discurso sobre qualquer outra coisa, porque Deus não é uma coisa. Seria, então, um mero ídolo.

Pg. 34

Não há parâmetros adequados que nos permitam falar do “funcionamento” desta realidade a que chamamos “Deus”. O discurso sobre Deus é único, portanto, incomparável a todas as demais linguagens humanas. E irredutível a qualquer outro discurso.